Agroecologia

Começou a 3ª Jornada da Natureza do MST: recuperação de áreas degradadas é aliada da geração de renda para famílias Sem Terra

O primeiro dia da 3ª Jornada da Natureza contou com apresentação de estudo sobre a semeadura da Palmeira Juçara em áreas do MST e visita à agroindústria da comunidade Dom Tomás Balduíno

3ª edição da Jornada da Natureza começa com integração entre saberes científicos e saberes populares.
Foto: Diangela Menegazzi/ MST-PR

Por Coletivo de Comunicação e Cultura
Da Página do MST

Começou nesta segunda-feira, 2, a 3ª edição da Jornada da Natureza, do MST. Com o lema: Semeando vida para enfrentar a crise ambiental, o evento dura 6 dias e reúne ações formativas e práticas em torno dos temas da emergência climática e da conservação da natureza. Dezenas de municípios do Paraná participam da atividade que deve culminar no plantio de 21 toneladas de semente da palmeira juçara. 

Neste primeiro dia, a programação de abertura reuniu pesquisadores, ambientalistas e agricultores em um Seminário de apresentação de pesquisas teóricas e científicas sobre as práticas adotadas pelas famílias camponesas que cultivam a Palmeira Juçara em áreas de Reforma Agrária. O Seminário teve início com fala do militante e um dos dirigentes do MST no Paraná, Roberto Baggio, que abriu a programação com reflexão sobre os Desafios Agroflorestais na Reforma Agrária e com críticas ao chamado PL da Devastação, já aprovado no Congresso Federal. 

Baggio destacou em sua fala a importância do reflorestamento como prática da sociedade para barrar a crise ambiental. “Vocês imaginem criar uma lei para destruir a natureza!? Esse é o nosso Congresso e a nossa Câmara. Então nós precisamos de leis que protejam o bem comum, nós precisamos de leis que protejam a Terra e que estimulem a sociedade brasileira a plantar milhões e milhões de árvores”, disse Baggio. 

Representando o Ministério do Meio Ambiente (MMA), Daniel Peter, da Secretaria Nacional de povos e comunidades tradicionais e desenvolvimento rural sustentável, destacou em sua fala a importância da Jornada da Natureza e a contribuição que traz para o plano de reflorestamento do país. “A gente abre a Jornada da Natureza nesse ano com dados, uma jornada tão recente, no seu terceiro ano, mas com dados concretos, foi uma aposta acertada do movimento”, analisou. 

Abertura da 3ª edição da Jornada da Natureza. Foto: Diangela Menegazzi/ MST-PR

O Secretário ainda lembrou o compromisso do governo com a restauração de 12 milhões de hectares de Floresta em Território Nacional: “Então essa é uma contribuição que o MST do Paraná está dando para o território nacional e é um exemplo que a gente tem que espalhar para todo o país”, disse. 

A Jornada da Natureza faz parte da Jornada Nacional em Defesa da Natureza e seus Povos, com o lema: “Reforma Agrária Popular em defesa da natureza enfrentando a crise ambiental”. A campanha é organizada pelo MST e terá mobilizações até 7 de junho.

Ao longo dos seis dias da 3ª Jornada estão previstas a semeadura aérea e a distribuição de 21 toneladas de palmeira juçara, em áreas da Reforma Agrária e comunidades tradicionais. O diferencial da ação é a semeadura aérea e massiva de plantas nativas da Mata Atlântica em risco de extinção, realizada com apoio de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF), parceira na atividade desde a primeira edição. A programação principal, aberta ao público, será nos municípios de Quedas do Iguaçu, Nova Laranjeiras, Antonina, Rio Bonito do Iguaçu e Lapa (confira a baixo)

Também participaram do seminário destes primeiros dias Lincoln Schwarzbach, do IBAMA; e Eduardo Seoane, da Embrapa Floresta; Joel Donazzolo, professor da UTFPR; e Henrique Leite, mestrando da mesma instituição. 

A pesquisa científica sobre a Palmeira Juçara na Reforma Agrária

Na sequência, foi a vez dos estudantes e professores apresentarem o resultado de pesquisas que vêm sendo realizadas em torno do cultivo da Juçara nas áreas de Reforma Agrária do Paraná. Giovana de Deus Carriel, mestranda da Universidade Federal da Fronteira Sul –  UFFS, estuda a semeadura feita durante a primeira edição da Jornada, ainda em 2023, quando foram lançadas mais de 4,5 toneladas de sementes da Juçara na região.

A pesquisadora fez levantamento e demarcação da área de plantio da Juçara no assentamento Dom Tomás Balduíno, marcando e numerando cada planta cultivada a partir da semeadura daquele ano. Também mediu a altura de cada planta e o índice de luminosidade. Ainda em 2025, ela deve fazer uma nova remarcação e medições para comparar os dados. 

“O resultado preliminar da pesquisa considerou uma juçara para cada dez metros quadrados e estimou que a rentabilidade, considerando a produção de cinco quilos de polpa por planta, é de 100 mil reais anuais para o produtor”, explicou Carriel. “Tem esse retorno financeiro positivo, além de trazer diversidade para a área”, ressaltou. 

Foto: Diangela Menegazzi/ MST-PR

Os resultados são preliminares mas, segundo a pesquisadora, também demonstraram a viabilidade da semeadura por helicóptero. “O estudo mostra que foi realmente viável, houve bastante densidade de germinação, as sementes não sofreram danos com o método, e isso é visível indo lá nas áreas, e é muito importante para a regeneração florestal”, disse. 

Manuela Pereira, professora da UFFS, é uma das coordenadoras do laboratório Vivan de Sistemas Agroflorestais, que abriga a pesquisa da Carriel e outras apresentadas durante o Seminário. A professora destacou a importância do processo participativo nas pesquisas, envolvendo as demandas das comunidades e a construção coletiva do conhecimento. “É muito satisfatório para nós podermos entrar nesse processo coletivo de construção do conhecimento, que é a universidade cumprir o papel dela de sistematizar esse conhecimento e divulgar”, relata a professora.

No primeiro dia de Jornada, Daniel Peter, do MMA, e Ralph Albuquerque, superintendente do IBAMA-PR, conheceram a pequena agroindústria da família de Josué Evaristo Gomes, um dos pioneiros do cultivo de juçara na comunidade. Ele afirma que é necessário mostrar à sociedade que a agroecologia é mais rentável que o agronegócio. Em vez de ser extrativista e destrutiva à Terra, a agroecologia “vive de acordo com o meio ambiente e gera renda para o camponês”.

“Enquanto camponês agroecológico, é possível ter estudos técnicos de um hectare de terra agroecológica e um hectare de terra convencional: pode escolher qualquer cultura do convencional e pode escolher qualquer cultura também agroecológica. E vamos provar em A mais B, eu tenho certeza. Eu vivo agroecologia. A agroecologia é mais rentável do que o viver sem ser natural, nós precisamos provar”, explica o produtor.

Visita técnica às áreas semeadas e na Agroindústria. Foto: Diangela Menegazzi/ MST-PR

Outras dezenas de ações vão acontecer em diversos municípios do estado, voltadas diretamente aos camponeses/as: são cerca de 20 oficinas e atividades práticas de recuperação de nascentes e de áreas degradadas, produção em agrofloresta, manejo e proteção do solo, homeopatia na Produção Animal, produção de mudas de erva mate, prevenção à deriva de agrotóxico e à influenza aviária, entre outras.

O encerramento da Jornada terá como ação principal a inauguração de um viveiro de mudas e horto medicinal no assentamento Contestado, na Lapa. O viveiro terá capacidade para produção de 100 mil mudas por ano, com foco em espécies da floresta ombrófila mista, a conhecida floresta de araucária. Já o horto de plantas bioativas prevê a produção de 5 mil mudas por ano, além de ser espaço pedagógico para o aprendizado para o cultivo de matrizes, manejo e propagação das espécies e produção de matéria-prima para fitoterápicos. Esta ação integra o projeto Bem Viver, que desenvolve capacitações e implantação de práticas agroecológicas e agroflorestais, em todo o estado. O projeto é resultado da parceria entre o Instituto Contestado de Agroecologia (ICA) e a Itaipu Binacional, por meio do Programa Mais que Energia, alinhado ao governo federal.

A 3ª Jornada da Natureza é organizada em parceria com a Associação de Cooperação Agrícola e Reforma Agrária do Paraná (ACAP); Cooperativa Central da Reforma Agrária (CCA); Polícia ROdoviária Federal (PRF); Instituto Contestado de Agroecologia (ICA), a  Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Laranjeiras do Sul; Laboratório Vivan de Sistemas Agroflorestais; Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB); Instituto Água e Terra; Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (CEAGRO); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Prefeitura de Quedas do Iguaçu e o Fundação Luterana de Diaconia (FLD); e Associação de Produtores Orgânicos de Quedas do Iguaçu Produzindo Vidas (APOQI).  Este ano, mais uma vez, a Caixa Econômica e o Governo Federal são patrocinadores do evento.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DA 3ª JORNADA DA NATUREZA:

02/06 – Comunidade Dom Tomás Balduíno (Quedas do Iguaçu – PR): Seminário “A pesquisa científica sobre a Palmeira Juçara na Reforma Agrária”

8h: Café da manhã

9h: Seminário “A pesquisa científica sobre a Palmeira Juçara na Reforma Agrária”

12h30: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)

13h30: Visita técnica às áreas semeadas e na Agroindústria 

16h: Café e Encerramento

03/06 – Comunidade Indígena Rio das Cobras (Nova Laranjeiras – PR): Semeadura aérea de 2 toneladas de Palmeira Juçara

9h: Apresentação cultural e recepção das lideranças indígenas do Paraná

9h30: Sobrevoo para semeadura de 2 toneladas de sementes de palmeira juçara

10h: Reunião das lideranças e entrega das pautas indígenas

11h30: Ato Político

13h: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)

15h: Distribuição das sementes à TI Rio das Cobras

04/06 – Comunidade Dom Tomás Balduíno (Quedas do Iguaçu – PR): Semeadura aérea de 8 toneladas de Palmeira Juçara

9h: Início do sobrevoo para lançamento das 8 toneladas de sementes 

10h: Visita técnica de pesquisadores e autoridades às áreas semeadas e Exposição ambiental na Escola Itinerante Vagner Lopes.

11h30: Ato Político da 3ª Jornada da Natureza

13h30: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)

15h: Continuação do sobrevoo para lançamento de sementes 

16h: Matibaile

05/06 – Dia Mundial do Meio Ambiente: Comunidade Herdeiros da Terra 1º de Maio (Rio Bonito do Iguaçu – PR): Recuperação ambiental de 7 hectares de Reserva Legal

8h: Café e acolhida

9h: Ato Político e Mística do grande mutirão de reflorestamento da 3ª Jornada da Natureza

10h30: Plantio de mudas de árvores nativas

13h:  Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)

06/06 – Comunidade José Lutzenberger (Antonina – PR): Semeadura aérea de 1 toneladas de Palmeira Juçara 

10h: Conferência Formativa da Mata Atlântica

11h: Sobrevoo para semeadura de 1 toneladas de semente de palmeira juçara

13h: Almoço caiçara  (trazer pratos e talheres)

14h às 16h: Oficina de música e conhecimentos do território litorâneo 

14h às 16h: Plantio no Bosque Comunitário e Atração Cultural

07/06 – Assentamento Contestado (Lapa – PR): Conferência “A dimensão ambiental da Reforma Agrária Popular” e Inauguração do Viveiro de Mudas de Horto Medicinal

8h: Café e acolhida

9h: Conferência “A dimensão ambiental da Reforma Agrária Popular”

11h: Inauguração do Viveiro de Mudas e Horto Medicinal e 1º Mutirão de semeadura e plantio do viveiro

13h: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)

*Editado por Erica Vanzin