Acampamento da Juventude

Após Acampamento, o desafio é efetivar a Plataforma da Juventude em Luta

Mais de 2000 jovens saem com o desafio de organizar a juventude e permanecer no campo

Intervenção em frente ao MDA. Foto: Juliana Adriano

Por Mateus Quevedo*
Da Página do MST

Depois de cinco dias de intensos de atividades no Acampamento Nacional “Juventude em Luta, por Terra e Soberania Popular”, no ginásio Nilson Nelson, em Brasília (DF),  jovens camponeses e camponesas voltam para o seus territórios com ainda mais convicção da importância da luta e permanência na terra e de que é preciso ser protagonista do país em que se vive.

Ao todo, o Acampamento contou com a participação de mais de 2 mil jovens. Foram registrados mais de 200 visitantes, e visita de mais de 70 autoridades governamentais como as ministras de Estado, Marina Silva, do Meio Ambiente, Sônia Guajajara, dos Povos Originários, Márcio Macedo, da Secretaria Geral da Presidência, e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário. Somaram 110 organizações, instituições, movimentos sociais e culturais, que participaram do encontro. 

“Chegando ao fim do nosso acampamento, agora valem as lições e afirmações que trouxemos para nossas casas, tem haver com a força que a juventude camponesa tem, essa força que vem de nossas vidas diárias, cada qual com sua realidade, mas quando unida, como em Brasília conseguimos apresentar o projeto de campo que queremos, as novas relações que necessitamos e os sonhos que nos atravessam, precisamos afirmar que nosso acampamento, nosso espaço de afirmação do direito de viver, com dignidade, a posse da terra, com políticas públicas e muita cultura, arte e rebeldia”, comenta Renato Araújo, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) do estado do Ceará.

O acampamento contou com a Conferência Popular da Juventude, que ocorreu na segunda-feira, 16 de outubro, dia de Luta pela Soberania Alimentar, com a presença dos ministros e de autoridades governamentais, onde foi apresentado a Plataforma da Juventude do Campo, das Águas e das Florestas. Fizeram parte da programação também três atividades externas, como a ação de solidariedade que doou 5 mil toneladas de alimentos para a comunidade Sol Nascente, o ato de comemoração dos 20 anos do Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA, ocorrido no Palácio do Planalto, e a marcha da juventude que encerrou a programação com a entrega da Plataforma de reivindicações para representantes do MDA.

Juventude Camponesa apresentando a Plataforma de lutas. Foto: Daniel Violal

Para o jovem Kauã Conti, do Movimentos dos Pequenos Agricultores (MPA), que veio do Espírito Santo, o acampamento foi um o importante para fortalecer a aliança entre o campo e a cidade.

“Como iniciante na militância jovem do MPA do ES, trago desses 5 dias de encontro muito aprendizado e resistência, conhecendo os companheiros e as culturas de todo canto do Brasil, contribuindo na organização das atividades, entendimento e defesa de nossas pautas nos espaços em que marchamos. Venho me forjando na luta e em suas adversidades, e ajudando a plantar essa semente em outros jovens, para perpetuar a aliança camponesa e operária por soberania alimentar, agroecologia e poder popular, adquirindo habilidade para contribuir na base do meu estado”.

Já para Jerê Santos, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), “o que levamos do Acampamento é combustível para consolidar as pautas da juventude e reafirmar nosso compromisso com a luta por terra e soberania popular, bem como para criar espaços  necessários de discussão sobre a atualidade do capitalismo no Brasil, a questão da Amazônia no contexto do debate climático, e a proteção dos povos e territórios ameaçados pelos grandes projetos econômicos”.

Marcha da Juventude em Luta. Foto: Juliana Adriano

Juventude assentada da reforma agrária conquistou Fomento Jovem

Um dos momentos marcantes do Acampamento, ocorreu no dia Internacional de Luta por Soberania Alimentar e Contra as Transnacionais. Na solenidade ocorrida no Palácio do Planalto, o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), César Aldrighi, assinou o primeiro contrato do Crédito Instalação, na nova modalidade Fomento Jovem.

Fred Ramalho, filho de agricultores do assentamento 14 de Agosto, no município de Ouro Preto do Oeste, em Rondônia, terá o à linha de financiamento no valor de R$8 mil voltados à implementação de projetos produtivos e de geração de renda. O Fomento Jovem é voltado para jovens entre 16 e 29 anos de idade e que são de famílias assentadas da reforma agrária. 

“Ser o único jovem a ser contemplado nos dá a certeza que é necessário a gente permanecer em luta, de que a juventude organizada nos territórios lutando, por direitos, inclusive, pra ser contemplado nas políticas públicas que já existem e também por novas políticas públicas, isso é fundamental para desencadear um grande processo de produção de alimentos saudáveis, que a juventude tem potencial e a Plataforma de lutas nos dá essa capacidade pra gente avançar”, defende Fred. 

Jovens fazem manifestação durante ato de comemoração dos 20 anos do PAA. Foto: Jerê Santos

os para consolidação da Plataforma da Juventude

Entre as grandes afirmações do Acampamento foi a Plataforma de Lutas da Juventude do Campo das Águas e das Florestas destaca-se a Plataforma da Juventude. Segundo Renata Menezes, do MST, a plataforma simboliza a vontade da juventude em permanecer no campo. “Permanecer enquanto um direito à terra, o direito ao território, direito de ser jovem com dignidade, com a produção de alimentos saudáveis, e combatendo a fome e a crise ambiental, que tanto nos preocupa e nos impacta cotidianamente”, afirma. 

O desafio agora é consolidar a Plataforma para que se transformem em políticas públicas para a juventude que vive no e do campo. Raiara Pires, coordenadora do MAM, a Plataforma pode e deve ser um dispositivo disparador de mobilizações e lutas territoriais. “Durante o acampamento tivemos momentos formativos que elencamos alguns temas que são cruciais para a juventude do campo brasileiro e transformamos esses elementos em uma plataforma da juventude da Via Campesina que contempla desde terra e território, produção de alimentos saudáveis, até saúde, educação e cultura, voltamos todos animados e com o objetivo de transformar nossos municípios em um mar de bandeiras.”

Daniel Souza, jovem coordenador do MPA, afirma que a partir da Plataforma a juventude mostra que é possível uma nova matriz produtiva, com a agroecologia e a agricultura camponesa. “Temos um desafio, a partir da plataforma de lutas, com a sistematização desse processo, seguirmos organizados e mantendo a juventude organizada para que possamos ir avançando, o a o, na efetivação desta plataforma de lutas da juventude camponesa.”

Foto: Sofia Isbelo

* Mateus Quevedo é comunicador popular e militante do Movimento dos Pequenos e das Pequenas Agricultoras 

**Editado por Fernanda Alcântara